Relatório professora Talita Leonelli sobre o ano letivo de 2020

  Fevereiro de 2020: toda a equipe de professores do Núcleo de Arte Copacabana realizou uma ampla divulgação nas escolas das redondezas.   Estive com a professora de arte literária Tula na E.M. Minas Gerais, e na E.M. Estácio de Sá fui acompanhada da professora de dança Vivian, ambas recém chegadas ao NA.

 Iniciei 2020 confiante, com turmas com um número bastante razoável de alunos para esse primeiro momento das aulas.  No turno da manhã comecei a me apropriar da sala de artes visuais como que realizando um sonho, após anos e anos de município sem espaço adequado para lecionar essa disciplina. Também na parte da manhã comecei uma pesquisa para a disciplina Prática de Montagem, com a professora Tula. No turno da tarde fiquei responsável pelas aulas de Arte Literária, começando a colocar em prática minha especialização em LIJ, com muita motivação e alegria. Após aproximadamente duas semanas de aulas presenciais tivemos o anúncio da pandemia.

  Através de reuniões pedagógicas semanais fomos buscando compreender a situação absolutamente inusitada que nos encontrávamos, e ainda nos encontramos. Junto disso discutimos maneiras de nos aproximar à distância dos nossos alunos.  Trouxe uma colega, a educadora Raquel Oliveira, que presta consultorias para escolas  do mundo todo, para nos acompanhar em centros de estudos, mas infelizmente após nosso primeiro encontro ela foi contaminada pelo covid 19.  Quando estava apta a nos atender já tínhamos seguido nosso próprio fluxo de escolhas.

  Foi sugerido que trabalhássemos sobre a metáfora de lançar garrafas com mensagens ao mar. Abaixo, a mensagem que escolhi colocar na minha garrafa. Simples e absolutamente honesta, comigo mesma e com todos. Sem ter ainda muita ideia de como começar esse novo processo educacional.



   Também fizemos grupos dos responsáveis por nossas turmas no whatsapp. Começamos procurando despertar o interesse dos alunos através de postagens semanais no Facebook. Fiz um cronograma de postagens semanais durante um período, e devido a quase nenhuma reposta, e muito trabalho para a produção solitária dos vídeos, fui diminuindo essas postagens pouco a pouco.  Até meados de setembro publiquei leituras e contações de histórias realizadas por mim.  Escolhi textos que percebo em suas narrativas o poder de estimular a alegria, resiliência ou ao menos abrir alguns sorrisos nesse momento sombrio que estamos passando. 

  Como a faixa etária dos meus alunos é muito variada, escolhi histórias para todos, seja por entendimento alcançável para crianças menores, como também por tocar em questões pertinentes ao ser humano independente da idade.

  A primeira leitura foi de um material trazido até mim pela professora Tula, A Grande Pausa, escrita por uma professora inglesa, Elizabet Emmet. Essa história conta sobre o tempo de pausa muitas vezes necessário para que possamos entender o real valor de nossas vidas, famílias, sentimentos, e um retorno às atividades mais leve e consciente.

  Em seguida gravei uma história em homenagem ao aniversário de Soraya, nossa aluna do núcleo que comentou e apreciou a primeira história postada. O nome da história é “A Sereia com Medo do Medo” escrita por uma grande amiga, também professora do município, que escreveu um livro todo sobre contos com crianças com deficiência como personagens mágicos e maravilhosos: Meus Amigos Super Fantásticos.

  Contei Ver-te de Ver meu pai, primeiro livro do meu orientador da pós graduação, Celso Sisto, que inclusive tem muitas e muitas publicações excelentes. Contei histórias que conto no meu grupo de contação de histórias, Faz de Contos, todas escritas por Jam Terra, exclusivamente para o grupo. Contei O Gato e o Escuro, de Mia Couto. Também convoquei alguns amigos para uma brincadeira com assobios como forma de incentivar todos nós a pensarmos outras formas de comunicação, no caso, dentro da escola.

    Nessa experiência do Facebook também postei outros artistas e grupos que remetem as disciplinas que leciono, artes visuais e arte literária, e a cultura brasileira de forma geral.

   Buscando dar sentido a minha prática docente em plena pandemia vejo como a questão mais importante tratar da saúde emocional de meus alunos, inclusive mesmo como fortalecedor do próprio sistema imunológico. Tenho certeza que a arte é uma ferramenta muito poderosa nessa missão.   

  


  





 












   É interessante pensar sobre o fato de não estarmos ocupando o espaço físico da escola nesse momento não significar que a escola não pode existir. A escola deve e precisa existir. O espaço virtual já é um espaço ocupado por crianças, jovens e adultos há alguns anos, e nesse momento é o espaço que podemos ocupar também com nossa arte, e nossos processos educacionais. Apesar da tecnologia virtual acelerar muitas questões, essa, da apropriação desse espaço como local de estudo e produção, está sendo um pouco mais lenta.

   No mês de agosto demos início a experiência das aulas virtuais na plataforma disponibilizada pela prefeitura, Teams. Durante o ano também tivemos um treinamento on line para aprender a usar a plataforma. Ainda tenho certa dificuldade para utilizar os muitos recursos disponibilizados, mas consigo fazer as aulas apesar disso.

  Nesse primeiro mês realizei as aulas em parceria com as professoras Tula e Teresa. Tínhamos por volta de 4 a 6 alunos por aula, que aconteciam semanalmente. Nosso tema foi Gatos, sugerido pelos próprios alunos. Pesquisamos artistas que trabalham com esse tema nas artes visuais, fizemos dobraduras, e as crianças ficaram muito felizes por poderem nos mostrar seus gatinhos.




 


  Em meados do mês de setembro escolhi viver essa experiência sozinha. Iniciei com uma aula semanal, e a medida que fomos interagindo mais, aumentei para duas aulas semanais. Temos trabalhado com os materiais disponíveis em cada casa, pouquíssimos inclusive.

  Abaixo árvores plantadas com sementes de bons sentimentos e lembranças das águas da natureza onde cada um gosta de se banhar. 




 





  Em outubro realizamos uma gincana em homenagem ao mês das crianças. Minha participação aconteceu nos jogos propostos pela professora Cláudia. A diretora Maria Eugênia nos acompanhou nesse momento, que me abriu no sentido de perceber que outros jogos também podem ser propostos no virtual, o que agrada bastante aos alunos.

  Realizamos frequentemente nos meus encontros com alunos leituras, feitas por eles e também por mim, com livros trazidos por todos nós. Também proponho atividades e jogos a partir dessas leituras.

  A atividade dessa semana é a partir da leitura que fiz do livro Mania de Explicação, de Adriana Falcão. As alunas  anotaram algumas palavras que chamaram por qualquer motivo a atenção. Essa anotação deve ser feita com letras grandes e legíveis, e as palavras terem espaço entre elas. Depois essas palavras serão recortadas e  as alunas formarão suas próprias frases, que serão coladas em uma folha colorida.  Como o número de alunos varia muito a cada aula, para os que não estiveram presentes contaremos as novas histórias que surgirem.

  Chamo as aulas de encontros artísticos e literários, porque de fato é o que está sendo possível nesse momento. Procuro trazer bastante arte e diversão para esses encontros onde, por incrível que pareça, não falamos nem uma vez sequer sobre covid. Não por qualquer impedimento forçoso, mas simplesmente por estarmos ocupadas em minutos de felicidade.

    A idade dos alunos varia de 6 a 8 anos.

  Penso em estratégias para seguir por mais um período com aulas a distância de maneira criativa e revitalizadora. E principalmente, artística.  Também acho que essa ferramenta virtual pode se tornar uma aliada da educação nesse mundo super populoso e imprevisível.

   Além de alguns microfones falharem e apresentarem interferências, que prejudicam um pouquinho o andamento da aula, me preocupa como acessar os alunos que não apareceram em nenhuma aula e também não respondem ao whatsapp.

  Os alunos que frequentam minhas aulas são Alexandre, Bento, Caio, Gabriela, Gabriell, Maria Luísa, Miriam e Sofia. Mesmo com desafios tecnológicos, emocionais e circunstanciais do presente, faz o maior sentido para mim estar conectada a esse grupo e aberta aos que virão.


 


 

 


 



 


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